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O trecho abaixo é extraído de uma entrevista feita a Isaías Pessotti por Bento Prado Junior, Maria Rossetti e Sérgio Ferreira. Destaquei o trecho final da entrevista, que trata sobre os idos da pesquisa universitária brasileira nos anos 60, e como tem sido encarada na atualidade. É muito importante nos reportar a pesquisadores como esses, que no auge da atuação tinham, no limite, perspectivas de participar de algum projeto de constituição de um país, e não meramente atendimento a "mercado de trabalho".
Pessotti - Nos anos 60, a gente acreditava estar fazendo um país novo e que o mundo dependia do que nós fizéssemos. Senti isso nos 60. O que a gente fizesse ia mudar o país. Acho que infelizmente os jovens não têm isso hoje. O mundo perdeu essa perspectiva, não sei se ilusória ou não. Não sei por que o menino de hoje não consegue se ver com essa importância. Talvez porque custasse mais para a gente fazer as coisas. Por exemplo, a pesquisa era muito artesanal. Hoje é muito mais fácil fazer uma pesquisa, um relatório. Há pouco espaço para a originalidade. Mas há também um desencanto com relação ao futuro, um marasmo geral. Naquela época, achava que a curto prazo já podia interferir. Quando me preparava para ir para Brasília, achava que algumas coisas iam ocorrer dentro de um futuro próximo. Até disse para a Carolina: ?Vou para Brasília e vou ser ministro da Educação. Vou manobrar, vou achar o jeito?. Eu queria fazer alguma coisa, mudar o ensino primário. Foi no começo de 65. Depois veio o AI-5 e acabou todo o sonho. Agora, tanto estávamos certos, tanto éramos decisivos que nos pararam. A ditadura nos parou, porque se essa turma com idéias e competência tomasse conta do país, seria difícil manter os controles políticos tradicionais.
Bento Prado - É possível prever transformações nas estruturas universitárias, uma direção diferente desta? Ela seria o nosso lugar de intervenção e, no entanto, me parece que é onde as coisas menos acontecem...
Pessotti - Aí é que se apagou de uma vez a chama. A universidade hoje é gerenciada como uma empresa, com critérios de produtividade industrial que nada têm a ver com a evolução do saber nem com o engajamento de alguém num tema, fecundo ou não, amanhã. Você precisa produzir, não importa o quê. Aquela universidade da pesquisa artesanal, gerenciada com critérios de promover o saber e a difusão do saber, acabou. Então, o que você vê é a castração da criatividade em nome da produção, não importa do quê. Hoje, pode ser uma coisa inócua, mas publicada na revista importante vale mais.
Bento Prado - Em última análise, você está dizendo que, se entrasse hoje na universidade, você seria assassinado?
Pessotti - Ah, sim! E você se cuide também (risos).
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