22 dezembro 2005

Mídia, política e a TV em 2006

A lista de discussão sobre a Universidade Nômade vinculou um texto muito interessante de Ivana Bentes, em tom de mensagem de fim de ano, sobre sua esperança de que em 2006 a televisão brasileira não interfira nos processos eleitorais. A televisão brasileira já teve amargos momentos no passado quando, por exemplo, favoreceu a vitória de Collor sobre Lula, ou mesmo quando alardeou com ênfase o aumento do dólar frente ao "risco" de Lula ser eleito.

O mesmo, infelizmente, vem acontecendo já há algum tempo para cá. O governo faz ataques para muitos sem sentido, quando diz que "a mídia" é culpada pela propaganda negativa sobre corrupção. Por outro lado, a mídia dominante brasileira, desde o episódio Roberto Jefferson, insiste em enfatizar certos acontecimentos - via de regra, que envolvem o PT -, e ocultar ou menosprezar a importância de vários outros. Como alguns exemplos, os 10 mi encontrados com o Bispo da Igreja Universal, o recebimento de dinheiro do "valérioduto" por membros do PMDB, PSDB e PFL, a participação da oposição para eleger Severino Cavalcante com o intuito de paralisar o PT, e a recente denúncia de caixa 2 envolvendo o PFL baiano e a bagatela de 101 milhões.

O curioso é precisamente chamar a atenção a dois fatores: ao número de denúncias vinculadas, e à ênfase dada pela mídia às denúncias. É evidente que cada jornal fornece maior ou menor visibilidade aos fatores que mais ou menos lhe interessam, e o mesmo ocorre principalmente com notícias políticas. O tom das palavras empregadas também pode evidenciar se um jornal tende ou não a conferir veracidade às denúncias. Quando se diz que grevistas de universidade federal requerem aumento, e não reajuste salarial, ou quando se diz que os EUA ocupam o Iraque, enquanto o MST invade terras, têm-se aqui alguns exemplos já batidos, mas incessantemente repetidos.

Parece haver aí um grande desequilíbrio: ao bom jornalista, cioso por acontecimentos a serem vinculados por toda parte, contrapõe-se uma maquinaria que privilegia a exibição de certos acontecimentos, e oculta ou menospreza o valor de outros. Estranho mecanismo - porém muito funcional para alguns -, esse que de saída impossibilita qualquer horizonte de pretensa objetividade jornalística.

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