23 fevereiro 2006

ENCA, "Outra Vida", e a fotografia de José Albano


Buscando por "enca" (Encontro Nacional de Comunidades Alternativas), no google, acabei encontrando a menção de uma exposição que parece ser muito interessante, da autoria do fotógrafo cearense José Albano. A exposição - intitulada "Outra Vida", no link da Caros Amigos - consiste em retratar, a cada ano, o Encontro. Infelizmente, Albano não dispõe essa exposição em seu site, mas um pouco mais de sua fotografia pode ser vista na exposição "Vida de Menino".

Ainda sobre Albano, há uma interessante monografia sobre fotografia e identidade, utilizando sua obra, divulgada aqui.

22 fevereiro 2006

Desempregados e tigres dentro de jaulas

Em um post anterior, vinculamos um curioso relato - bastante veraz! - que dizia respeito ao trabalho de redação de uma dissertação de mestrado ser semelhante a carregar um elefante nas costas.

Hoje, ouvi uma outra comparação curiosa, e não menos veraz: o ato de um desempregado buscar emprego é semelhante ao comportamento de um tigre que se move dentro de uma pequena jaula; quanto mais se move, mais se inquieta, e quanto mais se inquieta, maior é o movimento.

Desconheço o caso de um desempregado que não se comporte dessa forma. E a aparente assepsia das agências de "recrutamento", com seus procedimentos de análise de currículos baseada em critérios meramente visuais, apenas faz com que o pobre desempregado se inquiete mais ainda. Analisar um currículo no Brasil contemporâneo não é meramente analisar esteticamente uma folha de papel, ou compará-la às normas de revistas de administração que mudam de moda tal qual revistas de adolescente. Analisar um currículo no Brasil hoje em dia, seja qual for ou para o que quer que seja, é uma tarefa que reúne uma série de significados sociais, que não devem passar desapercebidos por qualquer recrutador.

18 fevereiro 2006

Perder e ganhar

Perder e ganhar. Falta e completude. Perder para depois ganhar, receber para o conseguinte desperdício. Algumas anedotas sobre o homem oriental (esse grande 'outro' do ocidente) dizem respeito a que, quando as coisas começam a melhorar, é motivo de tristeza, já que uma nova queda se anuncia. Dentro desses jogos de ganhar e perder, de desejo e falta, de completude e obsolescência, o homem 'normal' constitui todo seu espaço. É assim que trabalha, e junto com o 'ganho' do trabalho, recebe um salário que não é digno de seus esforços, e uma série de ritos onde alguns são mais suficientes que outros, alguns melhores são menos completos que outros aduladores, e assim por diante. É assim que ama, sob a constante ameaça da frustração, o medo da infidelidade, a insegurança sobre seu próprio desempenho físico, as constantes deformidades corporais e os grandes sacrifícios da saúde por uma fugaz beleza vendida. E é assim que vive, sempre num jogo de arriscar a tudo, em outro jogo de desejar tudo aquilo a que não possui, e em outro onde o que possui torna-se obsoleto e só adquire valor após a perda. Se possui, é obsoleto, se não tem, deve desejá-lo, se é inferior, deve sobrepujar ao outro, e se é superior, deve subjugar a todos.

É dentro desse movimento de autoritarismo e permissividade, de desejo e falta, de ganho e perda, ou seja, sempre dentro de uma relação com a vida essencialmente instável e negativa que nosso 'homem' constitui seu espaço. É numa constante negação de sua situação que o homem busca movimento, ao invés de uma afirmação do que se é para se ir além. Ainda parecem ser o ressentimento, o arrependimento e a mesquinhez os móveis da existência, já que, ao invés de uma superação de sua própria situação, o que se busca é sempre o negativo do que se é. É em função da bela modelo que usa os cosméticos da 'moda', do possuidor de bens, dos modos de vida fúteis, que se colocam os referenciais. Sempre o ressentimento em relação a si e ao outro, ao invés da afirmação de uma existência singular, que por sua singularidade, empurra-se sempre para além de si mesma, sempre para a superação de si mesma. Deixamos de lado a superação, para o advento desse jogo de perda e ganho (esse jogo de desejo e falta), onde existimos apenas contemplando um pequeno horizonte de possibilidades, que se encerram em modos de vida cuja 'autenticidade' é de antemão visada, em comportamentos cuja espontaneidade é prevista e catalogada, em mediocridades e intrigas pessoais que não levam a lugar algum, e existem apenas para ocupar o tempo.

Constituímos nossa existência de um modo essencialmente reativo e ressentido. Veja-se, nossa existência, essa pequenina existência que se apaga num pequeno suspiro e que começa num gesto essencialmente singular, encerrada em tudo aquilo que mata sua própria singularidade. Escolhe essa pequena existência ser apenas uma bolha que se insinua no lodo. Quando será uma estrela que nasce de uma explosão, e com outra se apaga?

16 fevereiro 2006

Hakim Bey

Alguns sites interessantes com informações sobre Hakim Bey:

http://sabotagem.cjb.net
- Além do livro "TAZ - Zonas Temporárias de Autonomia", o site dispõe de uma série de livros relacionados a anarquismo, revolução e literatura.

http://www.hermetic.com/bey/ - "Hakim Bey and Ontological Anarchy: The Writings of Hakim Bey" - Traz, em inglês, uma série de escritos, inclusive o TAZ completo em HTML.

http://www.hakimbey.blogspot.com - Traduções de textos de Bey para o português. Foi atualizado pela última vez faz tempo, mas vale a pena ler principalmente "Nietzsche e os Dervixes. Pequena citação:

"Rendan, "os inteligentes". Os sufis usam um termo técnico rend (adj. rendi, pl. rendan) para designar alguém "inteligente o suficiente para beber vinho em segredo sem ser pego": a versão dervixe da "Dissimulação Permissível" (taqiyya, pela qual é permitido ao Xiitas mentir sobre sua verdadeira afiliação para evitar perseguição, bem como para o avanço do propósito de sua propaganda). (...)"

14 fevereiro 2006

OLHOS EM CHAMAS (Mayra)

link: informarte.net


OLHOS EM CHAMAS

olhos em chamas

em chamas ardem

ardentes choram

em choros chamam

em chamamentos

se intensificam

se ensandecem

se incandescem

vermelhos brilham

brilhantes olham

olhando queimam

se escurecem

e se apagando

se consumindo

nas entrelinhas

desaparecem

desaparecem

desaparecem

desaparecem

- Mayra -



13 fevereiro 2006

11 fevereiro 2006

Adagio for Strings, op. 11


O Adagio for Strings de Samuel Barber sempre teve um significado especial para essa multidão que implicam chamar de "mim". Curioso que o que Barber pensava a respeito da música cabia perfeitamente em minha impressão sobre ela: a música comporta-se como um pequeno riacho, que aos poucos alarga-se num grande "rio", e culmina simplesmente no silêncio. É no silêncio, no vazio, no nada, que termina seu Adagio. Não posso deixar de lembrar outros afetos que cortam e estilhaçam, de uma certa batalha de Termópilas, de outra viagem a Ítaca, de certo pensamento sobre as Finalidades, aqui Kavafis, ali Barber. . .

Afete a quem puder, afete a quem quiser. Esses pequeninos movimentos de atores desconhecidos - "menores"? - dizem respeito simplesmente a todo o pouco que precisamos e devemos saber: retornos possíveis a Ítaca, olhares condencendentes a Príamo, coragem de prever e evitar certos Ephialtes, esperas inúteis pelos bárbaros, e, enfim, nosso irrecorrível desafio a Xerxes. A menos que desejemos ser seus escravos.

07 fevereiro 2006

Gregorio Baremblitt: Acerca de Felix Guattari o de como devenir muchos y libres

Gregório Baremblitt é o criador do Instituto Felix Guattari, de Belo Horizonte. Criou uma prática chamada "esquizodrama", e publica vários textos sobre D&G. Muito interessante nesse texto o caráter de necessidade de agenciar novas potências de agir, imanente a toda "obra" que pretende dizer-se "esquizoanalítica".

(JORNADAS DE HOMENAJE A GUATTARI.Facultad de Psicología. 30 de agosto de 1997)

Comencé a estudiar a Deleuze y Guattari en 1973. En esa época, en Argentina, había muchos freudo-kleinianos, bastantes freudo-marxistas, no tantos lacanianos. A pesar de la calurosa presencia de los compañeros de militancia psicopolítica, me sentía teóricamente solitario, pero esas páginas, "fulgurantes y elípticas", como decía Robert Castel, me hicieron sentir extrañamente acompañado. Cuando comenzaba a tener interlocutores y co-experimentadores, tuve que exilarme. Fui a parar a Río de Janeiro, donde fundé con otros desterrados, una Organización "casi" esquizoanalítica. Me sentía algo menos solitario. Seguí estudiando y aplicando Esquizoanálisis, hasta que en uno de los congresos que organizamos conocía Félix Guattari. Conversé mucho con él, polemicé con él en algunas mesas redondas y me despedí de él con n episodio gracioso. Le pedí que me dedicase mi ejemplar del Antiedipo que estaba enteramente subrayado en cinco colores diferentes. El me dijo: "no los estudies así, cortá un pedazo de una página y tratá de inventar algo al respecto". A partir de ahí me volví a sentir sólo millares de veces, y me siento solo, a menudo, actualmente. Extraño a mis amigos, en especial a los que perdí por causas políticas, a mi familia a la que también perdí por causas biológicas, a mi patria, que reiteradamente siento perdida por causas éticas. Pero ya nunca me sentí solo teóricamente. Me acompaña infaliblemente esa simple e insólita exhortación: "tratá de inventar algo". Tal incitación venía de un sujeto que, sin ningún título académico y ya conocido en el mundo entero, parecía junto con, pero hasta más aún que su fabuloso colaborador, Gilles Deleuze, haberlo reinventado "todo". Esa humilde y humorística "autorización", procedía de alguien para quien, todo lo que él había inventado, no tenía otro valor que el de intensificar en todos los otros, en cualquier otro, una potencia de inventar que, para Guattari, era lo único que importaba. En realidad yo ya sabía eso, pero necesité vivirlo en un encuentro para creerlo. Me había acostumbrado demasiado a la tradicional diferencia jerárquica entre los que "saben" y los que "no saben". Esa célebre verticalidad que hace que algunos hasta finjan no saber para parecer que lo saben todo, la misma que hoy hace que ya no importe lo que se sabe o lo que se deja de saber, para que el mundo esté como está.

En rigor, no sé si llegué a inventar algo especialmente interesante, pero a partir de ese encuentro, tanto el teórico como el convivencial, traté de vivir dedicado por entero a generar el mismo efecto en mis prójimos: familiares, colaboradores, alumnos, "pacientes", etc.