10 março 2006

Esse blog mudou de endereço. Esse blog mudou de blog


Esse blog mudou de endereço. Esse blog mudou de blog. Protesto contra as limitações do blogspot e do multiply; apologia ao excelente wordpress. Votos para que seja um sistema gratuito para sempre.

Agora estou com um catatau de idéias. Espero vê-los nesse outro baile de máscaras.

http://catatau.blogsome.com

05 março 2006

Constantine Cavafy - Os sábios e os fatos que se aproximam...

Pois os deuses percebem os fatos futuros;
os homens, os já ocorridos; os sábios, os que se aproximam.
- Filóstrato, Vida de Apolônio de Tiana, VIII, 7 -

Os homens conhecem os fatos que ocorrem no presente
Os futuros, os conhecem os deuses,
plenos e únicos possuidores de todas as luzes.
Dos fatos futuros os sábios captam
aqueles que se aproximam. Seus ouvidos,

por vezes, em horas de meditação se
conturbam. O misterioso rumor
lhes chega dos acontecimentos que se aproximam.
E atendem a ele, piedosos. Enquanto, rua afora,
nada escutam os povos

- Constantine Cavafy -
tradução/traição: nomade-z

Sábios, tolos, e segredos terríveis

Lendo o poema de Constantine Cavafy, lembrei-me imediatamente de outro texto, da autoria de Eliphas Levi, chamado "O Segredo Terrível". O tolo é o homem "das ruas", aquele que só pode saber aquilo que lhe é imediatamente presente, o que, pior do que a besta, sobrepõe a ignorância com um conhecimento reacionário e massificado. Frente à douta ignorância do sábio, que conhece suas limitações, o tolo (nas palavras de Levi) é ignaro ignorante, reveste a tolice com pérolas. Em nada se aproxima dos conselhos de Nestor ou da astúcia de Ulisses.

Ao tolo, o juízo de Levi é o mais severo; seu segredo mais manifesto, mais evidente, e ao mesmo tempo mais oculto, o sábio conserva num sorriso silencioso: é o segredo de sua tolice.

23 fevereiro 2006

ENCA, "Outra Vida", e a fotografia de José Albano


Buscando por "enca" (Encontro Nacional de Comunidades Alternativas), no google, acabei encontrando a menção de uma exposição que parece ser muito interessante, da autoria do fotógrafo cearense José Albano. A exposição - intitulada "Outra Vida", no link da Caros Amigos - consiste em retratar, a cada ano, o Encontro. Infelizmente, Albano não dispõe essa exposição em seu site, mas um pouco mais de sua fotografia pode ser vista na exposição "Vida de Menino".

Ainda sobre Albano, há uma interessante monografia sobre fotografia e identidade, utilizando sua obra, divulgada aqui.

22 fevereiro 2006

Desempregados e tigres dentro de jaulas

Em um post anterior, vinculamos um curioso relato - bastante veraz! - que dizia respeito ao trabalho de redação de uma dissertação de mestrado ser semelhante a carregar um elefante nas costas.

Hoje, ouvi uma outra comparação curiosa, e não menos veraz: o ato de um desempregado buscar emprego é semelhante ao comportamento de um tigre que se move dentro de uma pequena jaula; quanto mais se move, mais se inquieta, e quanto mais se inquieta, maior é o movimento.

Desconheço o caso de um desempregado que não se comporte dessa forma. E a aparente assepsia das agências de "recrutamento", com seus procedimentos de análise de currículos baseada em critérios meramente visuais, apenas faz com que o pobre desempregado se inquiete mais ainda. Analisar um currículo no Brasil contemporâneo não é meramente analisar esteticamente uma folha de papel, ou compará-la às normas de revistas de administração que mudam de moda tal qual revistas de adolescente. Analisar um currículo no Brasil hoje em dia, seja qual for ou para o que quer que seja, é uma tarefa que reúne uma série de significados sociais, que não devem passar desapercebidos por qualquer recrutador.

18 fevereiro 2006

Perder e ganhar

Perder e ganhar. Falta e completude. Perder para depois ganhar, receber para o conseguinte desperdício. Algumas anedotas sobre o homem oriental (esse grande 'outro' do ocidente) dizem respeito a que, quando as coisas começam a melhorar, é motivo de tristeza, já que uma nova queda se anuncia. Dentro desses jogos de ganhar e perder, de desejo e falta, de completude e obsolescência, o homem 'normal' constitui todo seu espaço. É assim que trabalha, e junto com o 'ganho' do trabalho, recebe um salário que não é digno de seus esforços, e uma série de ritos onde alguns são mais suficientes que outros, alguns melhores são menos completos que outros aduladores, e assim por diante. É assim que ama, sob a constante ameaça da frustração, o medo da infidelidade, a insegurança sobre seu próprio desempenho físico, as constantes deformidades corporais e os grandes sacrifícios da saúde por uma fugaz beleza vendida. E é assim que vive, sempre num jogo de arriscar a tudo, em outro jogo de desejar tudo aquilo a que não possui, e em outro onde o que possui torna-se obsoleto e só adquire valor após a perda. Se possui, é obsoleto, se não tem, deve desejá-lo, se é inferior, deve sobrepujar ao outro, e se é superior, deve subjugar a todos.

É dentro desse movimento de autoritarismo e permissividade, de desejo e falta, de ganho e perda, ou seja, sempre dentro de uma relação com a vida essencialmente instável e negativa que nosso 'homem' constitui seu espaço. É numa constante negação de sua situação que o homem busca movimento, ao invés de uma afirmação do que se é para se ir além. Ainda parecem ser o ressentimento, o arrependimento e a mesquinhez os móveis da existência, já que, ao invés de uma superação de sua própria situação, o que se busca é sempre o negativo do que se é. É em função da bela modelo que usa os cosméticos da 'moda', do possuidor de bens, dos modos de vida fúteis, que se colocam os referenciais. Sempre o ressentimento em relação a si e ao outro, ao invés da afirmação de uma existência singular, que por sua singularidade, empurra-se sempre para além de si mesma, sempre para a superação de si mesma. Deixamos de lado a superação, para o advento desse jogo de perda e ganho (esse jogo de desejo e falta), onde existimos apenas contemplando um pequeno horizonte de possibilidades, que se encerram em modos de vida cuja 'autenticidade' é de antemão visada, em comportamentos cuja espontaneidade é prevista e catalogada, em mediocridades e intrigas pessoais que não levam a lugar algum, e existem apenas para ocupar o tempo.

Constituímos nossa existência de um modo essencialmente reativo e ressentido. Veja-se, nossa existência, essa pequenina existência que se apaga num pequeno suspiro e que começa num gesto essencialmente singular, encerrada em tudo aquilo que mata sua própria singularidade. Escolhe essa pequena existência ser apenas uma bolha que se insinua no lodo. Quando será uma estrela que nasce de uma explosão, e com outra se apaga?

16 fevereiro 2006

Hakim Bey

Alguns sites interessantes com informações sobre Hakim Bey:

http://sabotagem.cjb.net
- Além do livro "TAZ - Zonas Temporárias de Autonomia", o site dispõe de uma série de livros relacionados a anarquismo, revolução e literatura.

http://www.hermetic.com/bey/ - "Hakim Bey and Ontological Anarchy: The Writings of Hakim Bey" - Traz, em inglês, uma série de escritos, inclusive o TAZ completo em HTML.

http://www.hakimbey.blogspot.com - Traduções de textos de Bey para o português. Foi atualizado pela última vez faz tempo, mas vale a pena ler principalmente "Nietzsche e os Dervixes. Pequena citação:

"Rendan, "os inteligentes". Os sufis usam um termo técnico rend (adj. rendi, pl. rendan) para designar alguém "inteligente o suficiente para beber vinho em segredo sem ser pego": a versão dervixe da "Dissimulação Permissível" (taqiyya, pela qual é permitido ao Xiitas mentir sobre sua verdadeira afiliação para evitar perseguição, bem como para o avanço do propósito de sua propaganda). (...)"

14 fevereiro 2006

OLHOS EM CHAMAS (Mayra)

link: informarte.net


OLHOS EM CHAMAS

olhos em chamas

em chamas ardem

ardentes choram

em choros chamam

em chamamentos

se intensificam

se ensandecem

se incandescem

vermelhos brilham

brilhantes olham

olhando queimam

se escurecem

e se apagando

se consumindo

nas entrelinhas

desaparecem

desaparecem

desaparecem

desaparecem

- Mayra -



13 fevereiro 2006

11 fevereiro 2006

Adagio for Strings, op. 11


O Adagio for Strings de Samuel Barber sempre teve um significado especial para essa multidão que implicam chamar de "mim". Curioso que o que Barber pensava a respeito da música cabia perfeitamente em minha impressão sobre ela: a música comporta-se como um pequeno riacho, que aos poucos alarga-se num grande "rio", e culmina simplesmente no silêncio. É no silêncio, no vazio, no nada, que termina seu Adagio. Não posso deixar de lembrar outros afetos que cortam e estilhaçam, de uma certa batalha de Termópilas, de outra viagem a Ítaca, de certo pensamento sobre as Finalidades, aqui Kavafis, ali Barber. . .

Afete a quem puder, afete a quem quiser. Esses pequeninos movimentos de atores desconhecidos - "menores"? - dizem respeito simplesmente a todo o pouco que precisamos e devemos saber: retornos possíveis a Ítaca, olhares condencendentes a Príamo, coragem de prever e evitar certos Ephialtes, esperas inúteis pelos bárbaros, e, enfim, nosso irrecorrível desafio a Xerxes. A menos que desejemos ser seus escravos.

07 fevereiro 2006

Gregorio Baremblitt: Acerca de Felix Guattari o de como devenir muchos y libres

Gregório Baremblitt é o criador do Instituto Felix Guattari, de Belo Horizonte. Criou uma prática chamada "esquizodrama", e publica vários textos sobre D&G. Muito interessante nesse texto o caráter de necessidade de agenciar novas potências de agir, imanente a toda "obra" que pretende dizer-se "esquizoanalítica".

(JORNADAS DE HOMENAJE A GUATTARI.Facultad de Psicología. 30 de agosto de 1997)

Comencé a estudiar a Deleuze y Guattari en 1973. En esa época, en Argentina, había muchos freudo-kleinianos, bastantes freudo-marxistas, no tantos lacanianos. A pesar de la calurosa presencia de los compañeros de militancia psicopolítica, me sentía teóricamente solitario, pero esas páginas, "fulgurantes y elípticas", como decía Robert Castel, me hicieron sentir extrañamente acompañado. Cuando comenzaba a tener interlocutores y co-experimentadores, tuve que exilarme. Fui a parar a Río de Janeiro, donde fundé con otros desterrados, una Organización "casi" esquizoanalítica. Me sentía algo menos solitario. Seguí estudiando y aplicando Esquizoanálisis, hasta que en uno de los congresos que organizamos conocía Félix Guattari. Conversé mucho con él, polemicé con él en algunas mesas redondas y me despedí de él con n episodio gracioso. Le pedí que me dedicase mi ejemplar del Antiedipo que estaba enteramente subrayado en cinco colores diferentes. El me dijo: "no los estudies así, cortá un pedazo de una página y tratá de inventar algo al respecto". A partir de ahí me volví a sentir sólo millares de veces, y me siento solo, a menudo, actualmente. Extraño a mis amigos, en especial a los que perdí por causas políticas, a mi familia a la que también perdí por causas biológicas, a mi patria, que reiteradamente siento perdida por causas éticas. Pero ya nunca me sentí solo teóricamente. Me acompaña infaliblemente esa simple e insólita exhortación: "tratá de inventar algo". Tal incitación venía de un sujeto que, sin ningún título académico y ya conocido en el mundo entero, parecía junto con, pero hasta más aún que su fabuloso colaborador, Gilles Deleuze, haberlo reinventado "todo". Esa humilde y humorística "autorización", procedía de alguien para quien, todo lo que él había inventado, no tenía otro valor que el de intensificar en todos los otros, en cualquier otro, una potencia de inventar que, para Guattari, era lo único que importaba. En realidad yo ya sabía eso, pero necesité vivirlo en un encuentro para creerlo. Me había acostumbrado demasiado a la tradicional diferencia jerárquica entre los que "saben" y los que "no saben". Esa célebre verticalidad que hace que algunos hasta finjan no saber para parecer que lo saben todo, la misma que hoy hace que ya no importe lo que se sabe o lo que se deja de saber, para que el mundo esté como está.

En rigor, no sé si llegué a inventar algo especialmente interesante, pero a partir de ese encuentro, tanto el teórico como el convivencial, traté de vivir dedicado por entero a generar el mismo efecto en mis prójimos: familiares, colaboradores, alumnos, "pacientes", etc.

31 janeiro 2006

Nômades e Bailes de Máscaras.


Engraçado os blogs se disporem dessa forma: uma coluna de posts em disposição temporal, outros links que abrem outras colunas, como se tudo fosse determinado e ali pudesse ser ordenado. Mas, na verdade, os weblogs são verdadeiros labirintos. As colunas e as disposições temporais não conseguem cumprir função de fio de Ariadne. De toda forma, nenhum weblog, por mais que se pretenda "nômade", talvez se compare a antigos bailes de máscaras, a menos que olhos brilhem, ao mesmo tempo emocionados com a leitura, e queimados pelo brilho do computador em madrugadas afora.


28 janeiro 2006

Gilles Deleuze: Open Letter to Negri´s Judges

Encontrei o texto abaixo no Emule. Talvez possa ser de interesse...

(La Repubblica, May 1979)

One is rapidly gaining the impression from the judicial proceedings that there is nothing, literally nothing, in the dossiers of the prosecution to back up the committal to prison and further detainment of Professor Negri and his colleagues and comrades.

The voice on the telephone in the call to the Moro family is suddenly being played down; the places where Negri was supposed to have been are somehow disappearing from the case; and his writings, so far from being "strategic resolutions of the Red Brigades," turn out to be texts which express clear opposition to the positions of the Red Brigades. The prosecuting judges, throughout the committal proceedings, have continuously put off presenting their legal evidence -- we are told to "have patience." And meanwhile the committal proceedings have taken the form of an ideological debate on Negri's writings, in a spectacle worthy of the Inquisition. True, the judges have time on their side: the Reale Law (1975) allows them to keep those charged in custody for up to 4 years before they come to trial.

Two principles are at stake in this case, two principles that vitally concern all responsible democrats.

Firstly, justice must conform to a principle that the content of the charge must have a certain identity. Not only must the accused be identified precisely, but so must the substance of the charge. It must have a precise identity and must be non-contradictory. If other, differing, elements of accusation emerge later, then this involves a new case. In short, the charge brought must contain in its substance a minimum of identifiable consistency. Unless such a precise identification exists as to the charges laid against the accused, as long as the accusations remain general and unspecified, the legal defense cannot operate.

This principle has been violated, for example, in the committal warrant issued from Rome. This starts by recapitulating the Moro kidnapping of March 1978 (as if Negri is accused of having been present). It then goes on to invoke his writings and ideas (so that even if he was not directly involved, he was nonetheless "responsible" for this event). Here we have a "catch-all" formula, not a legally consistent charge; it leaps from action to instigation to pure thought, from ideas to whatever events suit the prosecution case. Such a charge, so diversified and indeterminate, lacks the most elementary juridical identity: "You will be made guilty in any event...."

Secondly, the committal hearings must conform to a certain principle of disjunction and exclusion. Either A is the case, or B; if B, then it is not A, etc. Yet in the Negri case it appears that the judges are intent on "keeping their opinions open," so that opposed facts are no longer alternatives which mutually exclude each other. If Negri was not in Rome, the telephone call to Moro's family is still kept as an incriminating lead, by switching its caller to Paris (or vice versa). If Negri was not directly involved in the Moro kidnapping, then at any rate he inspired it, or "thought" it and that is tantamount to having carried it out. If Negri in his texts and statements has clearly opposed the Red Brigades, this was only a smart "cover" proving even more conclusively that he was in secret agreement with them and was their hidden leader. And so on. Contradictory elements in the charges do not cancel each other out. Rather, in this case, they become cumulative.

As Franco Piperno, one of the accused "in hiding"<1>, has pointed out, this implies an extremely curious way of evaluating the significance of political and theoretical texts. Those bringing the accusations against Negri are so used to the belief that in a political discourse it is possible to say anything, since overt "politics" is always a cover, that they simply cannot conceive of the situation of a revolutionary intellectual who has no possibility of writing anything but what he really thinks. Andreotti, Berlinguer and their likes<2> can always hide what they really think, because in such political discourse everything is calculated opportunism. Such can certainly be said (to cite one notable example of another revolutionary intellectual) in the case of Gramsci. In short, far from proceeding through the exclusion of alternatives, the committal hearings of Negri and the others accused in this case have been based on a principle of inclusion, the adding together of contradictory elements.

We must now ask how and why such negations of justice become possible. It is here, I believe, that the role of the Press and media has exerted, with few exceptions, and continues to exert, a crucial influence in the Negri case. Not for the first time, of course, but perhaps for the first time in such a systematic and organized way, the Press has pre-empted and prepared the ground by a sensational "pre-trial" (and the French Press has been no less willing to join in this campaign of defamation and calumny). The judicial system would never have been able to abandon the principle of specific identity in the accusations; the hearings would never have been conducted on the basis of inclusion, if the Press and media had not prepared the ground, offered the means, whereby these rules could be flagrantly abandoned and forgotten without public outcry.

In fact the media, for their part, operate according to another, specific principle. Whether in the case of daily or weekly papers, or radio and TV, the media are governed by a principle of accumulation. So that there can be "news" to report each day, and since repudiations or contradictions from the previous day have no influence whatever on the "news" of the following day, the Press and media can operate an accumulation of everything that is said from one day to the next without fearing any contradiction. The use of the "conditional tense'' allows all possibilities to be multiplied and to coexist. Thus it is "possible" to present Negri as being in Rome, Paris or Milan on the same day! The three "possibilities" are simply accumulated. He is presented at one point as an "active member" of the Red Brigades, or their "hidden leader", and at another as representative of a totally opposed tendency and tactics. No matter. . . the differing versions are again accumulated.

If we are to believe one French paper (Le Nouvel Observateur), we get the following result: even if Negri were not in the Red Brigades, he is an Autonomist, and "we all know who the left Autonomists in Italy are". Whatever the facts, the treatment of Negri becomes justified.

The Press has abandoned itself in this affair to a fantastic accumulation of make-believe, which has not followed after, in the wake of, the judiciary, but by their "pre-trial", has actively prepared the way for the judiciary and the police to conceal their total lack of evidence or substance to the charges. The new space for judicial and police repression in Europe today can only function through a crucial preparatory role of the Press and media. All organs of the media, from Left to far Right, have in this case, "made up for", made acceptable this gross breach of justice and due process. It seems that the time has come in Europe, when the old reproach that the Press should "keep a certain distance", should represent a certain resistance to "official slogans", will soon no longer apply.

Given the alleged international ramifications of this conspiracy, as reported in the Press ("the French Connection", the "Parisian HQ of the Red Brigades", etc.), let it not be thought on this occasion that my letter is a "meddling in Italian affairs of which we are ignorant"<3>. Negri is a political scientist, an intellectual of high standing, in France as well as Italy. Italians and French today have the same problems in facing escalating violence, but also in confronting an escalation of repression that no longer even feels the need to be juridically legitimated -- since its legitimation is carried out in advance by the Press, the media, the "organs of public opinion".

What we are witnessing here is an authentic judicial slaughter, by the modalities of the media, of men and women who have been interned, indefinitely, on the basis of legal "evidence" of which the least one can say is that it is as unsubstantial and vague as the accusations. Meanwhile, the long-awaited "proofs" are constantly put off until tomorrow. We do not in fact believe in these "proofs" that have so often been promised. We would like more information, instead, on the conditions of those being detained, and the solitary confinement to which they have been subjected. Perhaps we are to await another "prison catastrophe", which would no doubt give the Press their chance to find that elusive "definite proof" of Negri's guilt?

<1> Piperno was arrested in Paris on September 18. The Italian authorities have asked for his extradition under the charge of armed insurrection against the State."

<2> Giuglio Andreotti: a leader of the Christian Democrats; he often headed up the Italian government. Enrico Berlinguer: General Secretary of the Italian Communist Party. He was instrumental in implementing the Historical Compromise.

<3> This reproach was made by Italian politicians of both Left and Right, following the "Protest by French Intellectuals against Repression in Italy" in 1977.

19 janeiro 2006

Trecho de diálogo entre Isaías Pessotti e Bento Prado Junior

Link: crpsp.org.br

O trecho abaixo é extraído de uma entrevista feita a Isaías Pessotti por Bento Prado Junior, Maria Rossetti e Sérgio Ferreira. Destaquei o trecho final da entrevista, que trata sobre os idos da pesquisa universitária brasileira nos anos 60, e como tem sido encarada na atualidade. É muito importante nos reportar a pesquisadores como esses, que no auge da atuação tinham, no limite, perspectivas de participar de algum projeto de constituição de um país, e não meramente atendimento a "mercado de trabalho".

Pessotti - Nos anos 60, a gente acreditava estar fazendo um país novo e que o mundo dependia do que nós fizéssemos. Senti isso nos 60. O que a gente fizesse ia mudar o país. Acho que infelizmente os jovens não têm isso hoje. O mundo perdeu essa perspectiva, não sei se ilusória ou não. Não sei por que o menino de hoje não consegue se ver com essa importância. Talvez porque custasse mais para a gente fazer as coisas. Por exemplo, a pesquisa era muito artesanal. Hoje é muito mais fácil fazer uma pesquisa, um relatório. Há pouco espaço para a originalidade. Mas há também um desencanto com relação ao futuro, um marasmo geral. Naquela época, achava que a curto prazo já podia interferir. Quando me preparava para ir para Brasília, achava que algumas coisas iam ocorrer dentro de um futuro próximo. Até disse para a Carolina: ?Vou para Brasília e vou ser ministro da Educação. Vou manobrar, vou achar o jeito?. Eu queria fazer alguma coisa, mudar o ensino primário. Foi no começo de 65. Depois veio o AI-5 e acabou todo o sonho. Agora, tanto estávamos certos, tanto éramos decisivos que nos pararam. A ditadura nos parou, porque se essa turma com idéias e competência tomasse conta do país, seria difícil manter os controles políticos tradicionais.

Bento Prado - É possível prever transformações nas estruturas universitárias, uma direção diferente desta? Ela seria o nosso lugar de intervenção e, no entanto, me parece que é onde as coisas menos acontecem...

Pessotti - Aí é que se apagou de uma vez a chama. A universidade hoje é gerenciada como uma empresa, com critérios de produtividade industrial que nada têm a ver com a evolução do saber nem com o engajamento de alguém num tema, fecundo ou não, amanhã. Você precisa produzir, não importa o quê. Aquela universidade da pesquisa artesanal, gerenciada com critérios de promover o saber e a difusão do saber, acabou. Então, o que você vê é a castração da criatividade em nome da produção, não importa do quê. Hoje, pode ser uma coisa inócua, mas publicada na revista importante vale mais.

Bento Prado - Em última análise, você está dizendo que, se entrasse hoje na universidade, você seria assassinado?

Pessotti - Ah, sim! E você se cuide também (risos).

18 janeiro 2006

Rastros e Milongas

"...Deixar rastros e milongas
sinais de cascos e esporas
é como semear Rio Grande
vida adentro, campo afora
vida adentro, campo afora..."
- Luiz Marenco -

06 janeiro 2006

???????????? ?. ???????: ????? (1911)

cheers...


?? ????? ???? ??????? ??? ??? ?????,
?? ??????? ????? ?????? ? ??????,
??????? ???????????, ??????? ???????.
???? ???????????? ??? ???? ????????,
??? ???????? ????????? ?? ???????,
?????? ???? ????? ??? ???? ??? ??? ?? ?????,
?? ???' ? ?????? ??? ?????, ?? ???????
?????????? ?? ?????? ??? ?? ???? ??? ???????.
???? ???????????? ??? ???? ????????,
??? ????? ????????? ??? ?? ???????????,
?? ??? ???? ????????? ??? ???? ???? ???,
?? ? ???? ??? ??? ???? ?????? ?????? ???.

?? ??????? ????? ?????? ? ??????.
????? ?? ??????????? ????? ?? ?????
??? ?? ?? ???????????, ?? ?? ????
?? ???????? ?? ??????? ???????????????·
?? ??????????? ?' ???????? ?????????,
??? ??? ????? ??????????? ?' ??????????,
???????? ??? ????????, ??????????? ?' ???????,
??? ??????? ???????? ???? ?????,
??? ??????? ??? ?????? ??????? ????????·
?? ?????? ??????????? ?????? ?? ???,
?? ?????? ??? ?? ?????? ??' ???? ?????????????.

????? ???? ??? ??? ?????? ??? ?????.
?? ???????? ???? ???' ? ?????????? ???.
???? ?? ??????? ?? ?????? ??????.
????????? ?????? ????? ?? ?????????·
??? ????? ??? ?' ??????? ??? ????,
???????? ?? ??? ???????? ???? ?????,
?? ???????????? ?????? ?? ?? ????? ? ?????.

? ????? ?' ????? ?? ????? ??????.
????? ????? ??? ????????? ???? ?????.
???? ??? ???? ?? ?? ????? ???.

?? ?? ??????? ??? ?????, ? ????? ??? ?? ??????.
???? ????? ??? ??????, ?? ???? ?????,
??? ?? ?? ????????? ? ?????? ?? ?????????.

05 janeiro 2006

Toni Negri e Giuseppe Cocco: Bolsa-Família é embrião da renda universal

Reproduzo abaixo texto de Cocco e Negri a respeito da bolsa família como elemento de um movimento (essa palavra deve ser levada a sério) de radicalização de políticas sociais. A crítica dos autores ao uso da Bolsa-Família por governos neo-liberais ou outros realça a questão do movimento: o ponto preciso em que a proposta de Cocco e Negri parece se destacar das outras parece ser o de que, para além de um fundo que sustente o excedente de desemprego ou que meramente propicie assistência, a bolsa-família deve ser encarada como uma dentre outras medidas que devem ser necessariamente e radicalmente efetivas. Movimento, portanto, de criação de novas medidas, e não meramente o de enquadramento de antigas medidas em propostas político-econômicas.

Bolsa-Família é embrião da renda universal

ANTONIO NEGRI e GIUSEPPE COCCO

Há vários meses, com doses a cada vez renovadas de hipocrisia e cinismo, o governo Lula está sendo literalmente linchado por praticamente toda a grande imprensa nacional. Em um país como o Brasil, a "criminalização" de apenas "dois anos" do único governo não oriundo da atávica reprodução das elites tecnocrático-corporativas e oligárquico-escravagistas seria hilária se não fosse trágica. Apenas o preconceito de classe e até racial pode explicar a tão leviana adesão a uma "verdade do poder" que -no Brasil- tem a mesma cara e a mesma violência da desigualdade social e racial da qual ela é uma triste representação.


Com doses renovadas de hipocrisia e cinismo, o governo Lula está sendo linchado por quase toda a grande imprensa


Evidentemente, o verdadeiro debate é outro: ele diz respeito ao lugar e à dinâmica do que chamaremos -por oposição explícita- de poder (ou potência) da verdade.
Onde está a resposta ética e transparente ao moralismo instrumental das "elites sem projeto"? A dificuldade de responder a essa pergunta se encontra no fato de que, em face da ofensiva midiática e política das elites, o governo, o PT e os chamados "movimentos" sociais ficaram praticamente paralisados.
Por quê?
Em parte e sobretudo num primeiro momento, essa paralisia se explica pela própria dinâmica da crise política enquanto celebração da homologação do PT e do governo Lula às práticas plurisseculares das elites. A verdade do poder sabe como representar, deixando um espaço para o moralismo impotente daqueles que acreditavam que haveria uma representação "pura" e até mesmo revolucionária.
Um outro mecanismo do espetáculo hediondo da "verdade do poder" é o da representação do "silêncio dos intelectuais". Não fosse pela coragem política da filósofa Marilena Chaui -que desmentiu a arrogância intelectual de alguns-, o campo do debate teórico-político brasileiro teria sido falsificado como sendo o deserto do "esquecimento da política".
Mas as razões desse impasse são outras: elas se encontram na questão da política econômica do governo Lula.
Para uma parte consistente da militância e dos dirigentes do PT, um governo se define como de "esquerda" essencialmente em razão da política econômica que faz. E isso porque, para eles, a integração social só pode vir da dinâmica de uma taxa de emprego que, por sua vez, está atrelada às taxas de crescimento (do PIB!).
Ora, apesar da política econômica (e dos percalços do PIB no último trimestre de 2005), as estatísticas nacionais apresentam elementos positivos: o nível de desigualdade está diminuindo desde 2001 -e de maneira acelerada desde 2003 e 2004.
Com efeito, o programa Bolsa-Família é o grande responsável por essa evolução extremamente positiva e inovadora e indica claramente que a política social pode ter um desempenho expressivo apesar dos bloqueios e problemas gerados pelos juros astronômicos.
É exatamente aí, no Bolsa-Família, que está o paradoxo. O governo Lula assumiu essa política social a aceitando (e a justificando) como sendo condicionada (a uma determinada contrapartida por parte dos lares beneficiários).
Os neoliberais (nem todos) a aceitam enquanto política focalizada (não-universal), pois dirigida aos mais pobres.
Os defensores de uma virada radical da política econômica (dentro do próprio governo e do PT) a suportam como política compensatória que necessariamente deverá ser substituída quando a dinâmica do emprego permitir a retomada das políticas universais articuladas a partir da relação salarial (ou seja, da tradicional relação capital-trabalho).
Todas essas três abordagens são inadequadas, porquanto não apreendem que, no capitalismo contemporâneo (globalizado, organizado em redes que integram produção e circulação e cada vez mais baseado na produção de conhecimento), a integração social (o fato de ter direito aos direitos, de ser um cidadão por todos os efeitos) não está mais atrelada à integração produtiva (dentro da relação salarial, no estatuto de um emprego formal regulado por um contrato de duração ilimitada).
Pelo contrário, no capitalismo da era do conhecimento, para ser produtivo, é preciso ter educação, moradia e acesso aos serviços básicos e avançados. Para ser produtivo, é preciso ser cidadão -inclusive e sobretudo, ter renda!
Reduzir a desigualdade pelo Bolsa-Família não significa apenas fazer política social. Significa, também, fazer política econômica: para além do horizonte inatingível do pleno emprego keynesiano. É por isso que o "crescimento com redução da desigualdade" torna o desenvolvimento sustentável: trata-se de uma dinâmica material de mobilização produtiva, e não de um princípio abstrato.
Massificando o programa Bolsa-Família, o governo Lula está fazendo exatamente isso: criando um embrião de salário universal e, pela primeira vez, praticando aquela distribuição de renda que funciona de lastro à retórica vazia de muita gente.
Nesse sentido, o governo Lula deveria colocar sua própria prática numa outra perspectiva, apontando para a incondicionalidade e a aceleração do processo de massificação (democratização) do Bolsa-Família enquanto embrião de uma renda universal e cidadã.

Antonio Negri, 72, filósofo italiano, é professor titular aposentado da Universidade de Pádua (Itália) e professor de filosofia do Colégio Internacional de Paris (França). Entre outras obras, escreveu, em parceria com Michael Hardt, os livros "Império" e "Multidão".
Giuseppe Cocco, 49, cientista político, doutor em história social pela Universidade de Paris, é professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Entre outras obras, escreveu, com Antonio Negri, o livro "Glob(AL): Biopoder e Luta em uma América Latina Globalizada".

Constantine Cavafy: Viaje Nocturno de Príamo (1893)



Dolor y lamento en Ilión.
La tierra
de Troya en desesperanza amarga y en temor
al gran Héctor Priámida llora.

El treno estridente grave resuena.
Ni un alma
queda en Troya no doliente,
que el recuerdo de Héctor olvide.

Mas es vano, inútil
el mucho
lamento en una ciudad atormentada;
sordo es el adverso destino.

Detestando Príamo lo inútil,
oro
saca del tesoro; agrega marmitas,
tapices, y mantos; y también
túnicas, trípodes, una cantidad espléndida
de peplos,
y todo lo que apropiado juzga,
y sobre su carro lo carga.

Quiere con rescate del terrible
enemigo
recuperar el cuerpo de su hijo,
y con augustas exequias honrarlo.

Sale en la noche silenciosa.
Habla
poco. Por único pensamiento ahora tiene
veloz, veloz que corra su carruaje.

Tenebroso extiéndese el camino.
Lúgubre
gime el viento y se lamenta.
Grazna a lo lejos un ominoso cuervo.

Aquí, el aullido de un perro se escucha;
allí,
cual susurro una liebre de rápidos pies cruza.
El rey azota, azota los caballos.

Sombras de la llanura despiértanse
siniestras,
y se preguntan por qué con tanta prisa
vuela el Dardánida hacia los navíos
de argivos asesinos, y de aqueos
funestos.
Pero el rey a esas cosas no atiende;
basta que su carro veloz, veloz corra.

KAVAFIS, C. Cien Poemas. Biblioteca Virtual Beat 57 (http://ar.geocities.com/beat_virtual )