A Veja dessa semana traz a capa "Imprescindível - Vulnerável - Palocci se firma como o fiador da estabilidade econômica... mas as denúncias ainda podem sufocá-lo". Já a Isto É aparece com o mote: "Em todo o País, atendimento médico agoniza no caos. E o descaso das autoridades públicas empurra doentes ao abismo da indigência".
Na Veja, José Dirceu diria, em "tom de campanha", que a oposição tentará "obstruir o orçamento para desestabilizar o governo". Dirceu apenas "acusa", e em "tom de campanha"; já Palocci deve ter medo não de acusações, mas de denúncias que ainda podem sufocá-lo. Contra acusações, denúncias, da mesma forma que o MST invade, enquanto os EUA ocupam, ou grevistas (que para a mídia desestabilizam a nação) requerem aumento, e não reajuste de seus salários há muito defasados. Estranha economia de palavras, estranho uso.
Já a Isto É descobriu agora, no governo Lula, que há um problema grave e estrutural na saúde pública brasileira. Se o gatilho que atirou a bala no jovem brasileiro no metrô de Londres foi também apertado por Lula (que não seria sensível à saída em massa de brasileiros daqui para melhores condições), é óbvio que o presidente ex-metalúrgico também deveria ser responsável pela morte dos brasileiros mal-atendidos pelo SUS. É surpreendente esse tipo de denúncia aparecer agora. É como se antes nada acontecesse.
Aliás, há, nas capas das principais revistas brasileiras, uma curiosa história a ser analisada. Trata-se da história daquilo que é mais ou menos visível a cada edição, daquilo que deve ser mais ou menos ressaltado, mais ou menos denunciado ou acusado, reajustado ou aumentado, ocupado ou invadido, ressaltado ou ocultado. Não há apenas economia de palavras, mas economia daquilo que deve ser mostrado, enfatizado, e assim por diante. Certas informações em certas épocas são pouco lembradas ou ressaltadas, enquanto em outras adquirem palavra de ordem e julgamento. No espaço de uma revista, de um jornal ou de um telejornal, as ênfases, os tempos, e as palavras, dizem muito dos objetivos de cada informação.
Estou torcendo para conseguir encontrar pesquisas desse gênero. Por enquanto, conheço apenas um texto, bastante interessante.
27 novembro 2005
Capas da Veja e da Isto É
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário