16 novembro 2005

A educação superior e os diplomas "sem vergonha"

A Unicenp lança sua campanha para o vestibular 2006 vinculando alguns outdoors bastante curiosos. Em alguns deles, consta algo como (não recordo a inscrição exata): "Vestibular 2006 Unicenp: tenha orgulho do seu diploma". Em dois posts anteriores (veja aqui e aqui), sobre o analfabetismo funcional no Brasil, mencionamos de passagem sobre como uma série de faculdades particulares brasileiras lançam mão de um ensino de baixo nível adequado a uma grande massa de alunos que não tem capacidade de ler e interpretar textos satisfatoriamente (como exigiria um ensino por excelência "superior").

Ora, independente de julgar a Unicenp (ou outras), o enunciado de sua campanha publicitária se direciona precisamente a isso: há faculdades em que simplesmente se pode obter um diploma; já em outras, pode-se obter um diploma, sem com isso sentir vergonha. A frase do outdoor pode passar desapercebida, mas diz muita coisa do que já se anunciava, e do que já se começa a pensar: há instituições de ensino superior cujo nível de ensino se adapta aos 68% de brasileiros analfabetos funcionais (e assim consideram seus alunos mais como clientes merecedores daquilo que estão pagando - os diplomas - do que como alunos), e, assim, reduzem o nível de exigência nas avaliações e no ensino; já outras instituições tratam seus alunos como alunos (não como clientes), e começam a dizer que pode-se obter um diploma sem ter vergonha disso. Há, portanto, faculdades particulares brasileiras que distribuem diplomas sem-vergonha; já outras podem dizer que conferem diplomas sem que o aluno deva envergonhar-se de ter tido um baixo nível de estudo.

Entre as faculdades sem-vergonha, e as que podem dizer que o aluno recebe seu diploma "com orgulho", talvez algo esteja surgindo: uma certa exigência de padrões mínimos de educação que possa ser chamada de "superior".

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