As noções de "Império" e de "multidão" são grandes construções conceituais atualmente operacionalizadas por Negri, Virno, Hardt e outros. Mas remontam, por sua vez, a outras incríveis caixas de ferramenta, como as de Deleuze e Guattari. Folhando rapidamente As Três Ecologias, encontro a passagem abaixo:Não haverá verdadeira resposta à crise ecológica a não ser em escala planetária e com a condição de que se opere uma autêntica revolução política, social e cultural reorientando os objetivos da produção de bens materiais e imateriais. Esta revolução deverá concernir, portanto, não só às relações de força visíveis em grande escala mas também aos domínios moleculares de sensibilidade, de inteligência e de desejo. Uma finalidade do trabalho social regulada de maneira unívoca por uma economia de lucro e por relações de poder só pode, no momento, levar a dramáticos impasses ? o que fica manifesto no absurdo das tutelas econômicas que pesam sobre o Terceiro Mundo e conduzem algumas de suas regiões a uma pauperização absoluta e irreversível; fica igualmente evidente em países como a França, onde a proliferação de centrais nucleares faz pesar o risco das possíveis conseqüências de acidentes do tipo Chernobyl sobre uma grande parte da Europa. Sem falar do caráter quase delirante da estocagem de milhares de ogivas nucleares que, à menor falha técnica ou humana, poderiam mecanicamente conduzir a um extermínio coletivo. Através de cada um desses exemplos, encontra-se o mesmo questionamento dos modos dominantes de valorização das atividades humanas, a saber:
Em tempo: é curioso chamar a atenção a um aspecto recorrente na obra de Guattari: quase a todo momento, ele chama a atenção à necessidade de "autênticas revoluções" em todas as esferas da sociedade, que façam com que ela mude radicalmente, não apenas de modo molar, mas sobretudo molecular. Esse tema é recorrente no pensamento que os norte-americanos chamam de 'pós-estruturalista': é necessária uma mudança radical na sociedade, não meramente tematizada na dualidade marxista super/infraestrutura, mas a partir de novos conceitos. Por exemplo, o de Holloway: pode-se mudar o mundo sem tomar o poder, ou, em outras palavras, pode-se mudar o mundo sem algo que lembre a revolução russa (que altera molaridades, mas não modos de produção subjetiva...)
1. o do império de um mercado mundial que lamina os sistemas particulares de valor , que coloca num mesmo plano de equivalência os bens materiais , os bens culturais, as áreas naturais etc;
2. o que coloca o conjunto das relações sociais e das relações internacionais sob a direção das máquinas policiais e militares.
Os Estados, entre essas duas pinças, vêem seu tradicional papel de mediação reduzir-se cada vez mais e se colocam, na maioria das vezes, ao serviço conjugado das instâncias do mercado mundial e dos complexos militar-industriais. ("As Três Ecologias", edição eletrônica, s/p)
25 novembro 2005
Império em Guattari
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