José Ternes inicia seu livro "Foucault e a idade do homem" com uma citação de Heidegger, que faz uma pergunta que percorre grande parte do pensamento Foucaultiano: "Será possível chamar de Irracionalismo o reconduzir o pensar ao seu elemento?"
Pois bem, reconduzir o pensar ao seu elemento, em Michel Foucault, implica diretamente numa pergunta sobre as próprias condições de possibilidade de nosso pensamento. Como poderíamos pensar as condições do próprio solo que permite nosso pensamento? A arqueologia parece, assim, sempre remetida a nós mesmos.
É nessa remissão a nós mesmos que parece estar a maior crítica de Foucault às ciências humanas. Pois é perguntando sobre o lugar mesmo do qual falamos que se situa a crítica - sem interrogar por práticas verdadeiras ou legítimas - em seu viés mais radical. Aqui está o primeiro - e fundamental - ponto em que Foucault pode dialogar com os 'cientistas humanos': o ponto onde o próprio lugar de 'cientista', e 'humano', é suspenso, ou mesmo, implodido (já que é de seu próprio "solo" que provém a crítica). O uso da argumentação foucaultiana para legitimar certas práticas inseridas na atuação cotidiana do cientista humano, quando este não critica radicalmente o próprio lugar de onde fala, muitas vezes pode ser reinserida na própria dinâmica desse lugar que não é posto em questão. E, no fim das contas, sem a crítica, o "cientista humano" não deixa de fazer nada mais do que a mesma ciência humana que critica.
Para tanto, surge aí uma questão, para aqueles que desejam aventurar-se no "lugar" perigoso e movediço da crítica de seu lugar: suspendendo o próprio lugar de onde fala, no que se torna um (psicólogo, sociólogo, literato, historiador, crítico...) 'cientista' 'humano'?
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