Em um post anterior, busquei apresentar uma questão bastante curiosa, que, se hoje é apenas história elucubrativa, no futuro muito provavelmente irá adquir tom de seriedade. Trata-se da questão de uma próxima e muito provável escassez da água.
Conheço alguns "defensores" das águas. Dentre eles, chama-me a atenção uma senhora, residente numa pequena cidade interiorana, que dá entrevistas às mídias regionais para falar com boca cheia e ar de civismo o quanto as águas são importantes, o quanto deveríamos proteger as águas, como somos displicentes para com elas... Na mesma região onde ela reside, posso contar pelo menos dois rios que estão morrendo: um recebe a poluição da cidade, e outro, o resíduo quase integral de uma fábrica de papel pouco fiscalizada. Mas isso pouco importa, o que interessa são as "águas", e não essas águas, por debaixo de nossos assentos sanitários, e precisamente nesse ponto essa senhora tem sua consciência tranquila, sem precisar dizer nada em entrevistas sobre os rios que correm por debaixo de seu próprio nariz.
O artigo mencionado sobre a silenciosa guerra da água chama a atenção a outro fator: seu comércio e privatização. Há grandes empresas e países interessados nas reservas d´água restantes, como o aquífero guarani, que futuramente poderá ser fruto de muita discussão. Sobre a privatização da água, vê-se já faz um bom tempo como uma prática comum há 10 ou 15 anos foi abafada pela "compra" d´água: o hábito de beber água da torneira, vinda da rede pública, substituído pelo hábito de comprar água mineral.
Mas no fundo, falando sobre a privatização da água, e sobre rios sujos que correm por debaixo do nariz de seus defensores, gostaria de chamar a atenção a como a ação individual poderia "defender" as águas. Caso a mencionada senhora fosse realmente "defender" as águas, há uma série de práticas cotidianas que poderia ela mesma fazer, desde a questão de seu banho até mesmo às opções do quê comprar, do quê pagar, do quê utilizar, e sobre quais 'águas' efetivamente lutar.
Existe um dizer pouco digerível, mas muito enunciado nos media, nos meios sociais, empresariais, escolares, e afins: "agir localmente pensando globalmente". Esse dizer agrada muito as consciências, embora nada engendre de verdadeiramente efetivo. São dizeres como esse que nos fazem ver senhoras lutando por "as" águas, ou turmas de psicologia de faculdades ditas "renomadas" visitarem comunidades carentes levando um monte de sacos de comida e roupas, e retornando para casa com a consciência tranquila e a "bonita" história de terem melhorado o mundo.
14 outubro 2005
"Salvar as águas": quais águas?
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
é, esses ditos generalizados nos fazem esquecer do que nos assombra aqui do nosso lado...
Postar um comentário