30 setembro 2005

Um pouco de Hakim Bey e anonimato.

Em um post passado, vinculei uma entrevista muito interessante a Hakim Bey. Se a entrevista foi feita ao "senhor" Bey ou não, se foi Bey quem a forjou ou não, isso pouco interessa. E é exatamente esse o ponto da questão.

É curioso notar, a respeito desse "senhor" e dessa entrevista, duas coisas: em primeiro lugar, seu notável anonimato, e todas as reviravoltas que circunstanciam a entrevista: o atentado poético que deixa uma carta na cama do repórter (uma invasão de domicílio apenas para deixar um pequeno papel), o lugar misterioso do encontro, o carro desconhecido, "um obscuro restaurante num porão em chinatown", o narguilé (um narguilé em chinatown?)... Tudo isso por uma entrevista, uma mísera entrevista, que poderia ser agendada por telefone e fruto de um banal encontro.

Sobre isso, lembro-me de uma das últimas entrevistas feitas (pela BBC?) a Jean Genet: às perguntas do jornalista, Genet apenas respondia com desvios, com fugas, com insultos, respostas arrogantes e indiretas. Depois de algumas respostas, o narrador dizia: "é mais um artifício de Genet, mais uma encenação, tanto como sua literatura, que quer cercar e desviar-se do leitor". Na hora, pensei: o narrador não entendeu nada! Genet não estava encenando, não era um velho coroca que apenas fugia do repórter ou se divertia com sua arrogância. Aquilo era um ato político, um ato de "não vou me submeter a seu exame", um ato de, sobretudo, não mostrar-se, esquivar-se, manter no anonimato aquilo que, se por um lado foi um nome celebrado por Sartre e outros, por outro - esse, importante - envolveu-se em lutas efetivas, lançou seu corpo em lutas, e, naquele momento, não ostentava a figura do autor, e sim, lutava.

Talvez tudo isso só tenha sentido a partir de uma outra (esta, a segunda) coisa, que Bey fala na entrevista: para haver TAZ, não é o mero teatro, não é a mobilidade da rede, não são os "livros" os elementos realmente necessários; é preciso, sobretudo, haverem corpos, haverem trocas entre corpos, haverem agenciamentos (esse belo conceito inventado por Guattari), e é nesse sentido que tudo o mais é instrumento para corpos se autonomizarem. Se Genet era "arrogante", se Bey é esquivo, talvez seja aí que resida o ponto: não é a
"autoridade" de quem foi admirado por alguém como Sartre, não são os sentimentos ou a identidade do autor que está em jogo. É, precisamente, outra coisa...

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