O Jornal Hoje vinculou uma reportagem bastante curiosa: 68% dos brasileiros com mais de 15 anos são analfabetos funcionais. A pesquisa foi encomendada pelo Instituto Paulo Montenegro, braço do IBOPE. De praxe, as pesquisas do IBOPE aparecem em momentos duvidosos do noticiário da Globo, mas essa parece ter acertado em cheio.
Aliás, talvez o noticiário não deu a devida ênfase para a notícia, ao não destacar que a gravidade desse índice é alarmante. Isso é como dizer que a cada dez pessoas que encontramos na rua, ao menos 6 ou 7 delas não sabem interpretar um texto ou retirar idéias de um livro com alguma coerência. Mas as coisas pioram quando imaginamos, na recente onda do aumento das faculdades particulares, essa proporção projetada numa sala de aula. Pois, a quem leciona no ensino superior, deparar-se com essa questão é fato cada vez mais corriqueiro.
A começar pela difícil questão que é lecionar numa turma em que se misturam alunos com "boa formação" (falar disso também é um problema, mas que não cabe nesse momento) e alunos analfabetos funcionais. Quando recorremos às teorias da aprendizagem (como a de Vygotsky), podemos retirar daí o negativo de um exemplo da educação infantil: nela, quanto maior a diversidade de crianças - que, entretanto, compartilham de um mesmo campo de desenvolvimento próximo -, mais produtiva é a relação de aprendizagem. Mas no ensino superior a disparidade de condições dos alunos não permite ao docente empregar as mesmas condições que as da educação infantil, já que há aí técnicas, conteúdos e práticas que exigem um lugar comum, pressupondo que questões como a do analfabetismo funcional tenham sido superadas (o problema da educação, para Vygotsky, não seria imanente aos problemas sociopolíticos?).
Não passar por tais questões é o mesmo que admitir alunos que estudem letras e não saibam interpretação de texto, ou que estudem exatas e não tenham competências matemáticas mínimas.
Daí a difícil situação imposta ao vestibular das faculdades particulares: empregar uma seleção rigorosa, ou preencher todas as vagas de modo indiscriminado, obrigando os professores a reduzir a níveis mínimos o rigor do ensino. É só olhar ao redor, entretanto, para notar que é a segunda opção a generalizadamente escolhida.
Um comentário:
Interessantissimo o assunto desse texto, agora existem dados estatisticos sobre isso.
Legal o blog.
Abraço.
Mauricio
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